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quinta-feira, 21 de abril de 2016

A Escola não forma profissionais, forma pessoas

Desde muito pequenas, a maioria das crianças ouvem um dos mais frequentes questionamentos "Hey, o que você vai ser quando crescer?". Já são bem famosas algumas respostas clássicas. Eis algumas delas:
"Profissão Criança": série constrói histórias a partir de motivações infantis 
- Vou ser do seu tamanho.
- Ixi. Eu ainda não sei. Adulto?
- Só vou saber quando crescer, ué.
- Eu tenho que ser alguma coisa?
- Não vou ser nada, igual meu tio.
Mas a pergunta é(ou "são"): Por que as crianças tem que pensar nisso? Por que as escolas tem que se preocupar com isso? Por que não ensinamos nossas crianças que elas já são muita coisa desde que começaram a viver? Por que o repertório dos conteúdos que a maioria das escolas aplicam são tão direcionais em relação a algumas profissões deixando a margem os sonhos das crianças?

Durante o ano passado, o PEDAL saiu por aí perguntando aos pequenos: "se você fosse uma criança crescida hoje, o que você mais ia gostar de fazer?" Percebam que aqui existe uma observação (alguns dirão que é semântica) que faz toda diferença quando notamos que as escolas não são espaços de convivência e formação de humanos, mas sim um centro de formação de soldados para o sistema; "ser" e "fazer" estão longe de ser sinônimos, mas a avaliação feita a partir das respostas dos meninos e meninas associa violentamente o ato de produzir(trabalhar) com o ato de "ser alguém".

Matheus será cartunista, pois gosta de desenhar e dizem que ele desenha bem
Daí surge a famosa expressão "Você precisa estudar para ser alguém na vida". Depois disso, a escola desvaloriza a expressão da criança, suas criações, suas observações, apresenta a nada fabulosa fábula "A cigarra e a formiga" demonstrando que artistas morrem de fome e operários disciplinados são prósperos. A seguir, convence os pequeno que eles tem que seguir ordens, das professoras (e futuramente dos chefes), que tem que se dedicar a estudar mesmo não gostando (no futuro, trabalhar com o que detestam) e que sua única motivação deve ser conseguir notas altas (no futuro, bom salário).

Quando Rafaela pensa no seu corpo, imagina um imenso espaço de diversão, onde cérebro até se parece com "miojo"



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Quando o PEDAL respeita o que as crianças já "são" e  pergunta o que querem fazer, escuta verdadeiramente suas motivações, seus interesses e seus sonhos, assim, nos divertimos, entendemos melhor a infância e temos maior repertório para nos inspirar em aulas e encontros mais potentes, estimulantes e produtivos.


segunda-feira, 16 de março de 2015

Ciranda de autonomia dá voz a jovens estudantes

Para Vinícius, de 11 anos, a assembleia abre possibilidade de falar sobre as coisas que o incomodam
Desde pequeno, é costumeiro encontrarmos alunos que reúnem-se em roda para dançar cirandas, participarem de brincadeiras e outras atividades lúdicas que fazem parte do desenvolvimento da criança na educação infantil. Com o passar do tempo, as rodas tornam-se cada vez mais raras, conforme o interesse exacerbado pelos conteúdos programáticos vai aumentando. Alunos deixam de se olharem e passam a ter a frente de seus olhos apenas muitas nucas, um professor e uma lousa retangular. Ao alcançar a adolescência, jovens estudantes já estão acostumados com o espaço limitado e o formato quadrado da escola.
Fugindo do formato convencional, a Escola Oficina Pindorama quebra a regra convencional, reunindo os jovens estudantes em roda, onde participam de assembleias, discutem questões relacionadas ao direito dos alunos, as regras da escola e os formatos de execução de projetos que eles próprios planejam.
 Para José Pacheco, idealizador da Escola da Ponte (projeto inovador de educação em Portugal que incentiva a autonomia de educandos), as assembleias incentivam o respeito pelo outro, a capacidade de pedir a palavra, de saber esperar e saber ouvir. Não existe educação para a cidadania, mas sim, na cidadania. 
Guilherme, 13 anos, acredita que mesmo as regras antigas
devem  ser revistas para não ser injusto com os alunos novos
Para um dos estudante da escola, Guilherme Ribeiro, de 13 anos, a assembleia favorece o direito à liberdade e à possibilidade de mostrar aos adultos que a opinião dos mais jovens também pode ser útil. "Muitas vezes os adultos não escutam o que as crianças e jovens falam porque eles não acreditam que alguém que viveu menos do que eles possa falar algo que ajude a melhorar alguma coisa. Aí, eles descartam a opinião da gente. A assembleia é o momento em que, independente da idade, todo mundo pode dar a sua opinião", diz Guilherme, que afirma também que muitas vezes um estudante se destaca mais que outros, mas que isso não significa que o outro não tenha opinião, apenas que algum colega já disse uma coisa que ele concorda, complementa.

domingo, 18 de maio de 2014

O Buda, a Centelha e a Virada Educação


André Gravatá e Antonio Lovato durante a abertura da Virada Educação - 2014, em São Paulo















O dicionário de eletricidade define "centelha" como uma descarga elétrica momentânea e luminosa que acontece entre condutores que estão separados. E é assim que defino meu encontro com Antonio Lovato. Éramos condutores de muitas energias em comum, mas estávamos distantes, separados por oxigênio, apenas. Foi no dia 2 de novembro de 2012 (dia dos finados) que nasceu uma amizade que mudaria a trajetória da minha vida.
Anderson Lima e Antonio Lovato: Foi na estrada o encontro
Em pleno Alto Paraíso de Goiás, depois de pegar uma longa estrada partindo de Ribeirão Preto, São Paulo e, uma semana após de ter conhecido pessoalmente o professor José Pacheco, encontrei o Antonio (sem acento) na obra de uma cisterna captação de águas da chuva durante a execução de num projeto em que estamos envolvidos na zona rural daquela cidade. A partir daí, Antonio me levou para a produção de um filme que me colocaria no trilho da ferrovia que há tempos eu buscava desde que comecei a me entender como educador. "Quando Sinto que já Sei" é a tradução dessa experiência, conheci muitos pedaços do Brasil que ignorava, conheci pessoas especiais que nem imaginava que existiam, e alguns seres humanos que possuem uma energia magnética impressionante. Esse é o caso do André Gravatá, o Buda. Com esse sorriso quase que permanente, seu rosto transmite paz e força para continuar a caminhada, que é única. Vejo em André Gravatá a materialização da utopia. 

Jovens se apoderam do pátio e praça pra falarem de educação
No dia de ontem, durante a Virada Educação, vi um oceano de pessoas motivadas entusiasmadas e com suas almas envolvidas a um evento que sugeria uma nova forma de observar as perspetivas de educação, de educandos, educadores e de transeuntes. Tudo era uma coisa só. Ontem estreou o Programa Pedal. Foi um momento especial, de troca de energia entre os representantes do Projeto Âncora, as crianças e educadores da Escola Oficina Pindorama e os amigos que o programa já tinha mesmo antes de seu lançamento. O momento foi único, pra mim, Anderson. Porém, cruzar com centenas de pessoas envolvidas a um evento de educação, foi mais poético do que tudo que vi e senti ontem. Por esse motivo, não filmei, pouco fotografei. Sobrava em mim, a perplexidade que a beleza produzida em todos os cantos da praça e meios dos pátios proporcionava. Obrigado a todos que fizeram essa festa acontecer. Parabéns, Movimento Entusiasmo!

domingo, 27 de abril de 2014

Ritalina, maio de 1968 e a Semana de Arte Moderna


A São Paulo do início da década de 1920 era palco de uma crise conservadora que tinha no academicismo o retrato do “grande vilão” do cenário artístico brasileiro. Tal situação impulsionou a “inevitável” Semana da Arte Moderna de 1922, pincelando um novo horizonte criativo aos artistas da época, o que influenciaria a comunidade artística brasileira até os dias de hoje.
Entre 13 e 17 de fevereiro, o Teatro Municipal de São Paulo foi tomado por sessões literárias e musicais, além da exposição de artes plásticas no saguão, com obras de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Victor Brecheret, Ferrignac, John Graz, Martins Ribeiro, Paim Vieira , Vicente do Rego Monteiro, Yan de Almeida Prado e Zina Aíta, Hildegardo Leão Velloso e Wilhem Haarberg. As manifestações causaram impacto e foram mal recebidas pela plateia formada pela elite paulista, o que na verdade contribuiria para abrir o debate e a difusão das novas ideais em âmbito nacional. Enquanto esse cenário revolucionário se estabelecia na capital paulista, longe dali, na Filadélfia, Pensilvânia, Estados Unidos, um casal de imigrantes judeus russos curtia os primeiros meses de gestação daquele que seria o maior “genocida criativo” do século XX e início do século XXI, Leon Eisenberg.


         Esse nome pode parecer desconhecido do grande público, porém, o legado deixado por aquele ser humano nascido no dia 8 de agosto de 1922 interferiu, e ainda interfere, na educação, liberdade, criatividade e perspectiva dos milhões meninos e meninas do mundo todo, nos últimos 46 anos. Leon Eisenberg é o descobridor do “TDAH” (Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade). Em 1968, o Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais (DSM II), menciona a "Reação Hipercinética da Infância e Adolescência", primeiro nome oficial do transtorno. Daquele momento em diante, após a comprovação de que a causa genética era o motivo do distúrbio, a OMS(Organização Mundial de Saúde) reconheceu, pela primeira vez, o TDAH como "doença". Aquele era um momento histórico, mais especificamente em maio de 1968, pois uma onda mundial de protestos e o surgimento do conceito de contracultura surgem de forma efervescente nos quatro cantos do planeta. Coincidência ou não, no momento em que os jovens do mundo inteiro se rebelavam, o maior órgão de saúde do mundo legitimou um padrão de comportamento ideal às pessoas, tutelando seu tempo de concentração e o padrão de capacidade de absorção de conteúdos. Com isso, tornou científico aquilo que a igreja, a educação convencional e o Estado (por meio de leis) já não conseguiam mais fazer.

A partir daí, Ritalina, medicamento desenvolvido pela indústria farmacêutica norte americana, surge como a “coqueluche” do padrão comportamental, lamentavelmente aceita entre educadores, psicólogos e outros profissionais das ciências ditas “humanas”. Contudo, no dia 02 de fevereiro de 2012, sete meses antes da morte de Leon Eisenberg, jornal alemão Der Spiegel noticiou que o psiquiatra norte-americano, “pai científico do Déficit de Atenção”, disse, aos 87 anos de idade, que: “Déficit de Atenção é um grande exemplo de doença fictícia”.

Portanto, ao admitir isso, ele admite sim, que o distúrbio é uma invenção. Isso é trágico, pois ao longo de todos esses anos, houve muita interferência na individualidade e direitos pessoais, já que essa medicação induziu alterações comportamentais a milhares de meninos e meninas, com a desculpa irresponsável de que todo mundo tinha que aprender de forma igual e ter um comportamento padrão. A criança foi assim, privada de uma experiência essencial: aprender a agir autonomamente, o que reduz consideravelmente sua liberdade e prejudica o desenvolvimento da personalidade.

Atualmente, a internet tem sido assombrada por textos de blogs afirmando que a referida entrevista de Eisenberg foi mal traduzida e gerou um ruído ao se tornar pública. Seja como for, esse é um momento de transição, onde escola e família devem repensar a individualidade de seus alunos e filhos, para que essa geração não seja condenada a passividade compulsória e que outras semanas de 1922 e maios de 1968, no futuro, ainda possam acontecer.

Sim, TDAH não existe.


terça-feira, 22 de abril de 2014

José Pacheco e a descolonização do Brasil

Pedro colonizou, outro Pedro deu o grito, mas é o tal do José que descoloniza a velha Pindorama

Há exatos 516 anos, o português Pedro Alvares Cabral encostou suas naus na costa brasileira e iniciou o processo de colonização. A colonização portuguesa neste país teve como principais características civilizar, exterminar, explorar, povoar, conquistar, dominar, cuspir e jogar fora. Para desenvolver sua produção comercial, os portugueses utilizaram a mão de obra escrava. Os primeiros a serem escravizados foram os indígenas, posteriormente foi utilizada a mão de obra escrava africana, o tráfico negreiro neste período se tornou um atrativo empreendimento. 

Daí em diante, todos já sabem o que aconteceu e como as coisas chegaram aos dias de hoje: colônia, império, república, falsas democracias, racismo, desigualdade, falta de liberdade, moradia e direitos básicos.No século XX , desembarcou em terras brasileiras, pela primeira vez, depois de outros milhares deles, um outro português: José Pacheco. Com um entusiasmo quase que obsessivo que beira a impertinência, o “portuga bigodudo” roda o Brasil, conversa com estudantes, professores, educadores, entusiastas da educação e crianças, jovens e adultos que acreditam numa transformação democrática por meio da educação, da integração comunitária e das artes. 
A boa impertinência é a que José pratica. Aquela que luta contra a opressão, o autoritarismo e a “ocupação bélica intelectual”. A educação brasileira, que se revela uma extensão dos sistemas colonizadores que se estabeleceram a partir da chegada de Cabral, se dissolve paulatinamente com as 300 viagens que Pacheco faz em média, por ano, lutando contra as violências burocráticas, fomentando e assessorando projetos alternativos de aprendizagem, gerindo processos que aproximam o país e sua população educadora de uma verdadeira democracia. Hoje, vou conversar com as pessoas que estão ao meu lado e dizer que tem um senhor de cabelo branco, português, que poderia estar descansando na rede de sua confortável residência em Cotia, cidade do interior de São Paulo, mas prefere cair na estrada, Brasil adentro e labutar na DESCOLONIZAÇÃO dessa que já é sua nação.