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domingo, 27 de abril de 2014

Ritalina, maio de 1968 e a Semana de Arte Moderna


A São Paulo do início da década de 1920 era palco de uma crise conservadora que tinha no academicismo o retrato do “grande vilão” do cenário artístico brasileiro. Tal situação impulsionou a “inevitável” Semana da Arte Moderna de 1922, pincelando um novo horizonte criativo aos artistas da época, o que influenciaria a comunidade artística brasileira até os dias de hoje.
Entre 13 e 17 de fevereiro, o Teatro Municipal de São Paulo foi tomado por sessões literárias e musicais, além da exposição de artes plásticas no saguão, com obras de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Victor Brecheret, Ferrignac, John Graz, Martins Ribeiro, Paim Vieira , Vicente do Rego Monteiro, Yan de Almeida Prado e Zina Aíta, Hildegardo Leão Velloso e Wilhem Haarberg. As manifestações causaram impacto e foram mal recebidas pela plateia formada pela elite paulista, o que na verdade contribuiria para abrir o debate e a difusão das novas ideais em âmbito nacional. Enquanto esse cenário revolucionário se estabelecia na capital paulista, longe dali, na Filadélfia, Pensilvânia, Estados Unidos, um casal de imigrantes judeus russos curtia os primeiros meses de gestação daquele que seria o maior “genocida criativo” do século XX e início do século XXI, Leon Eisenberg.


         Esse nome pode parecer desconhecido do grande público, porém, o legado deixado por aquele ser humano nascido no dia 8 de agosto de 1922 interferiu, e ainda interfere, na educação, liberdade, criatividade e perspectiva dos milhões meninos e meninas do mundo todo, nos últimos 46 anos. Leon Eisenberg é o descobridor do “TDAH” (Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade). Em 1968, o Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais (DSM II), menciona a "Reação Hipercinética da Infância e Adolescência", primeiro nome oficial do transtorno. Daquele momento em diante, após a comprovação de que a causa genética era o motivo do distúrbio, a OMS(Organização Mundial de Saúde) reconheceu, pela primeira vez, o TDAH como "doença". Aquele era um momento histórico, mais especificamente em maio de 1968, pois uma onda mundial de protestos e o surgimento do conceito de contracultura surgem de forma efervescente nos quatro cantos do planeta. Coincidência ou não, no momento em que os jovens do mundo inteiro se rebelavam, o maior órgão de saúde do mundo legitimou um padrão de comportamento ideal às pessoas, tutelando seu tempo de concentração e o padrão de capacidade de absorção de conteúdos. Com isso, tornou científico aquilo que a igreja, a educação convencional e o Estado (por meio de leis) já não conseguiam mais fazer.

A partir daí, Ritalina, medicamento desenvolvido pela indústria farmacêutica norte americana, surge como a “coqueluche” do padrão comportamental, lamentavelmente aceita entre educadores, psicólogos e outros profissionais das ciências ditas “humanas”. Contudo, no dia 02 de fevereiro de 2012, sete meses antes da morte de Leon Eisenberg, jornal alemão Der Spiegel noticiou que o psiquiatra norte-americano, “pai científico do Déficit de Atenção”, disse, aos 87 anos de idade, que: “Déficit de Atenção é um grande exemplo de doença fictícia”.

Portanto, ao admitir isso, ele admite sim, que o distúrbio é uma invenção. Isso é trágico, pois ao longo de todos esses anos, houve muita interferência na individualidade e direitos pessoais, já que essa medicação induziu alterações comportamentais a milhares de meninos e meninas, com a desculpa irresponsável de que todo mundo tinha que aprender de forma igual e ter um comportamento padrão. A criança foi assim, privada de uma experiência essencial: aprender a agir autonomamente, o que reduz consideravelmente sua liberdade e prejudica o desenvolvimento da personalidade.

Atualmente, a internet tem sido assombrada por textos de blogs afirmando que a referida entrevista de Eisenberg foi mal traduzida e gerou um ruído ao se tornar pública. Seja como for, esse é um momento de transição, onde escola e família devem repensar a individualidade de seus alunos e filhos, para que essa geração não seja condenada a passividade compulsória e que outras semanas de 1922 e maios de 1968, no futuro, ainda possam acontecer.

Sim, TDAH não existe.


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